A Função Digestiva e os Exercícios Espirituais 

Frequentemente, dissociamos o corpo do espírito. Entregamo-nos a uma vida material, desconhecendo a existência do espírito, ou entregamo-nos a uma vida espiritual, menosprezando as necessidades do corpo. 

No entanto, o corpo é um templo, é o templo da alma e, como tal,  deve ser cuidado, nutrido, disciplinado e mantido em condições higiênicas ótimas. Quando nos referimos à higiene, não queremos dizer apenas a higiene externa que todos conhecemos, mas também a higiene interna, com a qual muitos de nós não nos preocupamos. 

Para conservar o organismo em bom estado, jovem e saudável, três condições são essenciais: boa respiração, coluna vertebral flexível e intestinos desimpedidos. 

A terceira parte está intimamente ligada à alimentação, o que compreende um grande capítulo no que se refere aos  alimentos convenientes e inconvenientes, compatíveis e incompatíveis. 

Há pessoas que vivem unicamente para os prazeres do estômago, sem pensar nas consequências que daí possam resultar. Quando obesas, reumáticas, hipertensas, diabéticas, são aconselhadas a um regime mais frugal e revoltam-se, porque perdem a maior satisfação de sua vida: passar bem. Assim, classificam a sobrecarga alimentar do organismo. 

Quando escolhemos um modo de vida mais espiritual, começamos a ver que este é incompatível com o excesso de alimentação. Verificamos que há algo mais além do corpo e os prazeres puramente materiais não mais nos satisfazem. Se nos alimentarmos com quantidades menores e com alimentos mais leves, sentir-nos-emos mais felizes, porque, automaticamente, se verificará uma desintoxicação que melhora o nosso estado de ânimo. 

Quem já passou por uma indigestão e passou também por um período de jejum pode comparar os dois estados: um de dores de cabeça, de náuseas, de indisposição para com tudo e para com todos, e outro de bem estar, de felicidade, em que a pessoa se sente leve, etérea, mais em harmonia com o infinito. Naturalmente, entre estes dois extremos há o ideal termo médio, em que suprimos o organismo com o necessário para mantê-lo em condições ótimas de funcionamento. 

Essas condições ótimas de funcionamento exigem atenção, não somente para a parte alimentar como também para a eliminação dos respectivos resíduos  que não devem permanecer no organismo além do tempo devido, sob pena de provocarem intoxicações e virem perturbar o ritmo normal da saúde. 

Todo aquele que se dedica ao espiritualismo não deve ser apenas um intelectual. Ler e achar bonito não é suficiente para a evolução de alguém. É necessário compreender, realizar, viver esses ensinamentos que achamos afins com nosso estado de alma. 

Com o tempo, haverá tendência a concentrar-nos, a meditar. Chegaremos a estados de paz, de tranqüilidade, em que a mente se aviva, em que se despertam novas sensibilidades, em que tudo se reveste de luminosidades diferentes, em que a vida toma um aspecto novo, desconhecido, deslumbrante. Porém, só poderemos atingir esses estados se conseguirmos nos esquecer de nosso organismo, se tudo funcionar normalmente e sem nos causar constrangimento de espécie alguma. Já pensaram na tortura que é caminhar com sapatos que nos incomodam? E quando nos esquecemos dos pés, que prazer sentimos em caminhar com sapatos confortáveis e anatômicos! 

Como poderemos meditar se, perturbados por uma digestão laboriosa, nos sentimos pesados, com a mente nublada e com os gases provenientes da fermentação intestinal a nos causar todo tipo de malestar? Precisamos, indubitavelmente, colocar o problema nos seus devidos pontos, embora de maneira pouco poética, porque visamos uma finalidade clara, eficiente e útil. 

Todas as religiões pregam o jejum periódico, que nada mais é senão uma medida de higiene. Não precisaremos, entretanto, jejuar se, constantemente, atentarmos para a higiene alimentar. Nutrir o corpo para sua manutenção, ingerir apenas o necessário, isto é, cortar os excessos que nos roubam a saúde e nos tornam infelizes. Cuidar do templo que é nosso corpo e deixar que nele habite e se desenvolva a alma, grande, pura, e sempre aspirando a maiores alturas, é o objetivo de nossa vida. 

Assim, poderemos olhar para nosso interior, descobrir nossas possibilidades e fazer com que surja aquela personalidade diferente que está escondida sob os preconceitos da educação, da sociedade e dos desejos indefinidos. Há dentro de nós, bem escondidos, anseios que só se exteriorizam com a calma, com a meditação; há bondades que só se descobrem quando olhamos para dentro e, bem lá dentro, há Deus, um Deus que só se pode revelar pela pureza integral do corpo, da mente e do coração.